sexta-feira, outubro 09, 2015

Três poemas de J.T. Parreira


O QUE DISSE UM DOS MALFEITORES
A caminho da morte não falou, a sua boca
reservava-se ao silêncio divino, dentro da alma
chorava talvez. Assim vi o melhor espírito de Israel
consumido pela dor
numa cruz, vestido do seu próprio sangue
atravessando o coração do Pai.
Ao meu lado a arrastar a voz ferida
a deixar no ar palavras de perdão.
Digo
aquela cruz não era para um Deus, eu que sou
um malfeitor a quem Ele deu uma rua de ouro
no Paraíso.
08-10-2015

ESPERANÇA
Este é o meu repouso, aqui habitarei
por algum tempo, neste templo sem ritual
sou sagrado e adoro Deus, aqui a Sua mão 
compõe-me sem argila. Musicalmente no silêncio
a Sua mão compõe-me, ossos e carne 
são a alegria da sua voz, o riso dos seus olhos 
só a mãe a abraçar o ventre e eu ouvimos 
a música, como a música contínua 
que parte das estrelas. Converso sonhos
com ela e estou neste berço de águas quietas. Aqui 
no resplendor da obscuridade onde repouso.
06-10-2015

KADDISH PARA UMA CRIANÇA QUE NÃO VAI NASCER
Bendita és tu como fruto do ventre, onde vives
ainda fruto do Amor, bendita és porque te acompanhou
o toque de violinos enquanto teu pai e tua mãe se abraçavam.
Benditos todos os sonhos que te fizeram e que caíram
depois das nuvens.
Que seja bendito o teu nome que não chegas a ter.
Tocai anjos, depressa, as últimas
notas nas trombetas pela criança que não vem ao mundo
pela ave que vai voar sobre um mundo
que não conheceu. Bendito todo o ventre
que não seja um Auschwitz dos filhos por nascer.
29-09-2015

Um comentário:

Nal Pontes disse...

Lindas poesias. de J.T.Parreira. Boas coisas aqui, para baixar e de
graça. Obrigada por compartilhar conosco. Fica na paz do Senhor Jesus.

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