sábado, maio 16, 2015

O RUÍDO DA RESSURREIÇÃO, poema de Carlos Nejar


O RUÍDO DA RESSURREIÇÃO

Ele não está aqui, porque já ressuscitou.
Mt 28.6

Era o fogo
que impelia
a alma
ao céu aberto.

Com a velocidade
de uma pedra 
que sobe.

2.
Não é possível
ressuscitar
sem o grão
descer
ao cogitar
denso
da terra.
O século
de uma semente.

3.
A pedra tinha um ruído
de eternidade.
E não se confundia
com o anjo
que a empurrava
para deixar entrar
o sol.

4.
E entrou.

Aquela pedra
desposara
o monjolo
das manhãs.

Queimava
queimava.
Separava o corpo
da alma. Era
o corpo que se
desprendia
para que
a morte
fosse uma pedra
de vento.

5.
A luz descia
subia, enxame
de celestes vinhas.

E a colmeia, pedra
harmoniosa, zumbia.

Era a ressurreição.


Do livro Os Viventes (Ed. Record).

Um comentário:

tina disse...

Essa foi de arrepiar. Linda poesia. Obg.

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