terça-feira, outubro 15, 2013

Quatro poemas de J.T. Parreira


"Ruinas de Eldena", 1825, Caspar Friedrich

TE DEUM

“Not because of victories
I sing”
Charles Reznikoff

Não canto por causa de victórias,
tenho tido poucas,
mas pelo brilho do sol que nasce
para todos os olhos, que pode cegar 
de beleza todos por igual,
louvo por causa do que a brisa dá,
movimentos graciosos
às flores, na primavera frágil.
O meu hino não é pelas minhas vitórias
mas pelo meu dia de trabalho feito
ó Deus, até entre as ruínas.



SALMO 121 TALVEZ MODERNO

Antes de partir, vão os meus olhos
tomar a medida dos montes,
tomar a sua dureza nos pés,
a incerteza do degelo e o peso
do sol, antes de partir elevo
o meu corpo do chão através dos olhos,
de onde me virá o socorro?
Tomo um pouco de vinho, preparo
o pão amassado nas dores da farinha
e da água e o azedume dos dias.
É ténue a linha, a terra firme
onde se resvala para o abismo.





AUTOBIOGRAFIA ACTUALIZADA 

Descansa-me estar, sem olhar para trás
no beco sem saída de Deus.


SE UM POETA SE CALAR

Asseguro-vos que, se os poetas se calarem,
as pedras estremecerão 
de alegria 
no ventre dos carrascos.


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