sábado, fevereiro 02, 2013

O EXEMPLO DE PEDRINHO e outros dois poemas de Myrtes Mathias




O EXEMPLO DE PEDRINHO

Tudo começou naquele dia
Em que Pedrinho a conheceu:
Era toda verde,
Os raios brilhantes,
O farol enorme,
- a mais bonita bicicleta da loja.

- “Seu moço, quanto custa?"

O negociante estendeu o lábio com desprezo:
- “Três mil cruzeiros.”

Três mil cruzeiros?!
Pedrinho coça a cabeça desanimado,
Mete a mão no bolso
E tira, envergonhado,
Uma amassada notinha de dois cruzeiros.
Sai da loja,
Sobe o morro
E entra no barraco,
Onde o tio dorme seu sono de ébrio.
Apanha uma lata vazia
E guarda a velha nota.
Era o início da luta:
Engraxa sapatos,
Carrega água,
Guarda carros,
Aluga os bracinhos magros,
Nas feiras de sábado...

Quanto tempo!
Quanto sacrifício!
Quanto pontapé do tio embriagado,
Até ao dia em que Pedrinho pôde contar:
- 50, 100, 500, 1.000, 2.000, 3.000 cruzeiros...
Faz um pacote e desce o morro
Para o grande encontro.

Na casa da esquina Pedrinho para.
Havia tanta gente...
Entra...
Um homem de preto está falando:
“Irmãos, grande desgraça na China:
Doença, frio, falta de pão.
Crianças morrem de fome,
Velhos perecem sob a neve...”

Mostra fotografias:
Crianças amarelinhas,
De mãos estendidas,
Os olhos amendoados no rostinho sujo.

Passam uma bandeja pelo auditório
E começam a cair as moedas.
Pedrinho não entende porque dão dinheiro.
As crianças da China querem pão.
Ele não sabe onde é a China,
Nem o que é morrer sob a neve,
Mas sentir fome, ele o sabe bem.

O menino não resiste.
Deixa o auditório, corre à padaria
E começa a comprar muitos,
Muitos pães cobertos de açúcar.
O preço do seu tesouro,
Toda sua economia de longos meses...

Volta curvado sob os pacotes enormes.
O homem de preto interrompe o apelo
E Pedrinho explica:
- “Moço, é para as crianças da China.”

A multidão está boquiaberta.
Teria roubado?
Interrogam-no.
E a criança, fazendo força para não chorar,
Piscando para esconder a lágrima teimosa,
Balbucia:
- “É o dinheiro da bi-ci-cle-ta verde...”

Um murmúrio cresce no auditório
De admiração e vergonha
Diante do sacrifício da criança.
Os pães são vendidos por milhares de cruzeiros,
Maravilhosamente multiplicados
Como os cinco pães do menino galileu...

As crianças da China teriam pão
Porque um menino pobre do morro
Dera tudo quanto possuía,
Seu sonho,
Sua bicicleta verde,
Seu primeiro amor...

Talvez pareça um exagero de poeta
Numa tremenda força de expressão.
Mas se sentirmos em toda intensidade
O peso de toda a humanidade
Que geme sem Cristo, o verdadeiro Pão...

Se contemplarmos milhões de mãos crispadas,
De almas revoltadas que suplicam amor.
Milhões de famintos, pobres que morrem de frio
Num mundo vazio – rebanho sem pastor.
Se olharmos através do IDE de Jesus,
O campo enorme que é o mundo sem Deus;
Se sentirmos também de igual maneira,
Tudo entregaremos à Obra verdadeira:
De semear na terra, para colher nos céus.

Eu sou, tu és, nós somos responsáveis,
Pelos que perecem sem amor, sem luz.
Que Deus nos arranque do vil comodismo,
Nos faça mártires, se assim for preciso,
Mas que o mundo se dobre ao nome de Jesus.




QUANDO O PRÍNCIPE VISITOU O PRESÍDIO

A notícia começou no gabinete do diretor
E, apesar do sigilo, atingiu as selas solitárias:
O Príncipe visitará o presídio!

A esperança renasce nos corações
Que o isolamento e o desespero se atrofiam;
Porque quando o Príncipe visitava a prisão
Havia sempre uma comutação de pena,
Um precioso indulto,
Tão precioso porque apenas um,
Em cada visita.

A espera já tem sabor de desespero,
Quando surge, o homem que traz nas pontas dos dedos
O poder de libertar ou condenar para sempre.

Passos firmes,
cônscio do próprio poder e responsabilidade,
O Príncipe entra no corredor da morte.

Há uma expectativa dolorosa em cada rosto
Que se comprime às grades para implorar
E para prometer.

Sabem que a um gesto da mão acostumada a dar ordens,
Uma porta se abrirá para o sonho da liberdade.
E isto torna ainda mais difícil argumentar,
Pedir, explicar, encontrar razões,
Fazer uma autodefesa, diante daqueles olhos
Que cortam qualquer tentativa de fuga ou simulação:

- Alteza, sou inocente...
- Condenaram-me sem razão...
- Eu não fiz nada...
- Foi tudo um erro judiciário...
- Uma traição, Alteza...

Cansado dos gritos e dos protestos,
O Príncipe chega à última cela.

Lá no fundo, sobre o estrado miserável,
Estão 322, o “Zé – Sem – Sobrenome”,
Que nada possuíra durante toda a vida,
Senão a liberdade.
Abençoada liberdade que lhe permitia
Percorrer as ruas...
Um biscate aqui,
Outro ali...
Um pedaço de pão de um,
Um resto de comida de outro...
Um sono pesado num banco de jardim,
Um pouco de amor barato num barraco qualquer.

A liberdade!
Qualquer preço pelo privilégio
De uma corrida pelos campos,
De um dia sob o sol
Que ele só sabe que brilha lá fora,
Porque entra como um fio de luz,
Pela única janela gradeada no alto da parede.
Ouvira que o Príncipe viria
E que comutaria a pena de um deles.
Certamente que não seria a sua.
Não passava de um “Zé – Sem – Sobrenome”.
Sem sobrenome e sem ninguém.

- Trezentos e Vinte e Dois!

Era a voz do diretor.
E a seu lado estava aquela figura soberba,
Da qual o poder emanava quase materializado.

- Como te chamas?
- Zé, sim Senhor.
- Por que estás aqui, Zé 322?

Diante da figura majestosa que se dignava falar-lhe,
O homem sem identidade,
Um número, entre muitos,
Sente, mais dolorosamente que nunca,
O peso do seu passado.
E as lágrimas chegam,
Antes que os lábios encontrem a resposta:

- Estou aqui porque cometi um crime...
Eu matei, Senhor!
Estou aqui porque... matei...

O Príncipe olha-o longamente,
E estende a mão acostumada a dar ordens,
Mudar destinos, governar o povo:
- Deixe-o ir!
Ordena ao Diretor.
E colocando a outra mão no ombro do condenado,
Que o olha sem compreender:

- Não tens nome, disseste...
De agora em diante usarás um dos meus.
Procura honrá-lo.
É a tua oportunidade para vencer.

Aquela promessa e principalmente,
Aquele toque no ombro magro
Que o uniforme humilhante oculta,
Fazem o milagre.
Pela primeira vez, Zé – Sem – Sobrenome
Sente que é alguém
E reconhece que até a liberdade
Que o espera lá fora,
É um bem menor diante daquele gesto,
Daquela voz que o reabilita,
Que o devolve ao mundo dos vivos,
Que faz dele homem.

E como nenhuma palavra de gratidão
É capaz de expressar o que sente,
Cai de joelhos.
E imitando o homem que o salva,
Que lhe dá um nome,
Faz, também, uma promessa:

- Juro, Senhor, nunca mais cometerei um crime!

Dizem alguns que o mundo é um hospício,
Um palco, uma escola, uma prisão...
A Deus não importa o que pensas do mundo,
A Ele preocupa o teu coração.
E este, bem sabes, está condenado,
Ao estigma da culpa, ao medo do castigo:
Não ignoras todo mal que já tens feito,
A condenação eterna que mereces,
E negar, não podes
Que precisas de Um Amigo.

Não de alguém que exija ou dependa de ti,
Mas Um Amigo que possa te ajudar.
Alguém que tendo o poder nas mãos,
Tenha também amor no coração
E que não venha pedir,
Porque vem dar.
No plano eterno só existe um assim:
- Perfeito Homem e Perfeito Deus –
O Príncipe da Paz, Jesus, que hoje te oferta,
Seu próprio Nome e um lugar no céu.
Só Ele, pode te abrir a porta,
Porque é a porta da libertação.
Confessa tuas culpas e a mão estende,
Para receber de graça, porque Deus não vende:
O maior bem que existe – TUA SALVAÇÃO!



O GRANDE ADVOGADO

Myrtes Mathias

Um pensamento.
Um ato.
Um destino.
O despertar tremendo da realidade...
Fora apenas um pensamento, um sonho de adolescente,
possuir um carro...
levar Sandra...
A vida era bela...
e os cabelos da namorada, tentadoramente perfumados.

Ao volante seria um homem importante e sem complexos.
E o sonho toma vulto, vira plano, tornasse obsessão.
Rouba...
Tudo aconteceu como imaginara. Ninguém viu.
E Sandra sentiu-se a mais querida das mulheres
e ele, o mais importante dos homens.
Mas a justiça não é romântica,
nem desculpa os sonhadores.
E Raul ouve, pela primeira vez,
o trágico e metálico ruído da porta da prisão.

Caminha para o banco dos réus,
curvado sob a vergonha, o remorso, o medo...
Acusam-no...
Ameaçam-no.
É próprio inferno!
Sem esperança e sem salvação.

Onde andaria Sandra, seus pais, seus irmãos?
Procura no auditório
Com uma esperança desesperada.
Ninguem...
Só...
Desgraçadamente só com o seu destino sem piedade.
súbito alguém se levanta:
- Eu defendo este moço!
Escapa um suspiro de alívio e certeza do peito de Raul.
Sabe que estará livre
Quando o homem falar.

E o advogado fala, argumenta, indaga, pondera, insinua, defende.
Faz mágica com as palavras,
brinca com o pensamento,
e salva Raul.

Livre!
Livre!
Livre!
Outra vez a loucura das ruas,
A beleza de Sandra,
A embriaguez da mocidade...

Correm os anos...
o que surgira como pensamento,
culminara como crime, transforma-se em hábito.
Rouba, mata, desonra.
Não mais por um sonho.
embrutecera.
É um criminoso vulgar,
Cínico e sem piedade.
Acostuma-se a enganar a justiça,
aos homens,
a própria consciência.

Mas até os invencíveis tem o seu dia.
E mais uma vez,
Raul ouve o trágico e metálico
ruído da porta da prisão.
Outra vez o inferno do medo e da revolta.
Há ódio nos olhos do júri,
Há ódio em seu coração.
Sabe quanta desgraça existe no mundo por sua causa.
(Se Dr. Fausto aparecesse...
Aquele maravilhoso advogado
Capaz de convencer uma pedra,
De fazer ver num demônio um santo...)


O juíz pede silêncio.
e só, então,
Raul volta-se
para a inviolável figura do magistrado.
- Deus do céu,
seria crível?!
o juiz,
o venerado juiz é Dr. Fausto!
Está salvo!
Salvo!
não importa a cabeleira, a toga,
é Dr. Fausto, o insubstituível defensor.


Não ouve e não vê mais nada.
seus olhos estão fixos,
hipnotizados, no rosto impassível do juiz.
Só desperta quando os seus lábios se movem:

-CULPADO!

Raul salta da cadeira
e atira-se aos pés do homem que o condena.
Não há força que o detenha.
aquela face de pedra é a sua última esperança:
- Lembra-se de mim Dr. Fausto?
O juiz é inflexível e frio:
- Lembro-me, Raul, lembro-me.
eu era advogado e o salvei.
tudo mudou, Raul, tudo.
Um juiz não defende - julga.

Por isso, meu amigo, trago-te um recado
Do grande Advogado, do Senhor dos Céus,
Daquele que se oferece para defender,
Do único capaz de te absolver,
Porque pagou o preço exigido por Deus.

Compreendo teu cansaço e a tua revolta,
A vida te impôs uma pesada cruz.
Mas seja teu problema o maior dos problemas,
Seja teu tormento o maior dos tormentos,
Pára um momento... olha pra Jesus.
Olha-o no calvário, assim crucificado,
Levando teu pecado diante de Deus,
Comprando com sangue tua liberdade,
Pagando na cruz tua felicidade,
o direito de advogar no tribunal dos céus.

Lembra-te que o amanhã é uma interrogação:
Sabes, acaso, se o amanhã virá?
Como podes manter assim a calma?
“Se esta noite pedirem tua alma,
O que tens preparado para quem será?”

Este é o recado que meu Deus te manda!
Crê somente, se queres ser feliz.
Hoje é advogado e pode te salvar,
mas o tempo passa e o dia há de chegar
em que não mais defenda, pois será juiz.

E naquele dia não poderás dizer
nunca ter ouvido a mensagem da cruz.
Neste momento, alguém convida e chora,
Neste momento há alguém que implora:
- Entrega-te, amigo, ao Senhor Jesus.

Olha.
Pensa.
Sente.
És o responsável.
De Deus é a proposta,
tua é a opção.
Não cometas contra tua alma um crime,
Só há um caminho que redime:
Faze hoje a tua escolha
- CRISTO ou a PERDIÇÃO!


Leia muitos outros poemas de nossa poeta maior, Myrtes Mathias, na página POEMAS DA MYRTES MATHIAS, mantida por Elizana Fênix, no Facebook - https://www.facebook.com/MyrtesMathias


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