segunda-feira, dezembro 17, 2012

Natal: Deus se faz Poeta! - por José Roberto Prado

Pablo Picasso - O Poeta
Poetas são artesãos da palavra. Como nas outras artes, o artista parte do desejo de expressar-se e de sua imaginação. Com o que tem às mãos – o comum, o simples – maneja com habilidade (do Latim “ars”) até transformar em algo sublime, admirável, belo.
De todas as matérias primas, a palavra é, por excelência, a mais rica e misteriosa condutora de pensamentos e sentimentos.
A capacidade humana de verbalizar, junto com a consciência, é o que nos distingue dos animais e nos torna imagem e semelhança do Criador. Foi Ele, na eternidade, que primeiro expressou-se por palavras.
A poesia é divina.
Divina, compartilhada, mas não espontânea. Não basta juntar aleatoriamente palavras numa frase. É preciso trabalhar arduamente até que as palavras sejam capazes de expressar com lógica e beleza os mais profundos sentimentos. Todo artista imprime a si mesmo em sua obra. A arte é a forma mais elevada de comunicar quem somos.
As narrativas bíblicas natalinas são poéticas. Prosa e poesia se entrelaçam intimamente para expressar o mais belo de todos os poemas divinos: o Filho que se faz gente. O Criador que literalmente entra, encarna, sua obra. O sonho louco do artista é concretizado, ou melhor, humanizado numa pequena vila da Galiléia…
Mistério. Gente, palavra, poesia sempre foram mistério.
João, o pescador-poeta, no primeiro capítulo de seu Evangelho, apresenta o Filho como verbo, Palavra, logos de Deus que se faz gente e habita entre nós (Jo 1.14). João, pastor-discípulo descreve a si mesmo como “aquele a quem Jesus amava” (13.23), vê a Deus como poeta!
Amor e poesia sempre andam juntos.
E é das mãos, lábios, mente e coração de João – poesia é coisa visceral – que recebemos o verso: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Único…” (3.16). Poesia de amante… Em Cristo, Deus demonstra a intensidade de seu amor escandaloso por nós.
Cristo é poema de Deus. Em outras palavras, Deus imprimiu a si mesmo em Cristo.
Percebemos a poesia de Deus nas narrativas natalinas de Mateus e Lucas. Elementos singelos, personagens comuns, animais, elementos típicos de uma pequena vila do interior são magistralmente moldados por Deus para escrever sua história na nossa história. Não mais uma história, mas “a” história que dá sentido a toda História.
O Filho Amado é a peça do quebra-cabeça divino que abre nossos olhos para compreender toda o Cosmo. Ele é a pedra angular que sustenta toda a catedral. A Palavra que interpreta todas as outras. Jesus, no Hebraico, significa “Deus Salvador”.
Todo poeta lança mão de recursos estéticos para comunicar sua idéia. A cadência das palavras, a rima, a seqüência das idéias. E foi assim. Nas palavras, no olhar, no caráter Deus estava expressando-se a si mesmo no Filho.
Na poesia como na música, até mesmo o silêncio comunica.
Antes do nascimento de Jesus, Deus se calou por quatrocentos anos! É como se o escritor divino, como os poetas, usasse da reclusão para sua criação. De outra perspectiva, o silêncio nos faz atentos, cria expectativas. O que fará Deus? Malaquias é o último profeta; depois dele, ninguém mais disse: “Assim diz o Senhor!” Nunca Deus havia se calado por tanto tempo… Mistério e poesia caminhando de mãos dadas na narrativa natalina.
Foi Gabriel, o mensageiro celestial, que rompe o silêncio de Deus e anuncia à jovem virgem: “Você dará à luz um filho e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande, chamado filho do Altíssimo… Ele reinará para sempre…”. Maria creu.
Fé, coragem e poesia se encontram.
Fé é a capacidade de interpretar a vida como sendo poema de Deus.
Desde o mais simples ao mais radical dos acontecimentos, como nascimento ou morte, todos, sem excessão, fazem parte da ação deliberada da pena do Artista.
Assim como o raciocínio está para a leitura, a fé está para vida.
Sem fé é impossível agradar a Deus, pois sem fé é impossível decodificar SUA mensagem: Cristo, salvador, redentor, Senhor de tudo.
Jesus nasceu!
Inclua um pouco de poesia no seu Natal.
Leia os relatos do Evangelho e ouça, por um momento, o coro celestial cantando: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede seu favor” (Lc 2.14). Olhe para o menino que nasceu em Belém com os olhos da fé e deixe que sua mente seja treinada pela esperança.
É nascido o príncipe da paz! Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo! Reconciliando você com Ele. Creia… celebre, descanse, adore.
Eu lhe desejo um Feliz Natal, com toda carga semântica e poética que estas simples palavras possam suportar.
Shalom!
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