domingo, março 07, 2010

Três poemas de Eugene Peterson

*
 "La Famille et l'Arbre Bleu" Print
Michel Rauscher - La Famille et l'Arbre Bleu

Tradução de Fabiano Medeiros

Os afortunados pobres
“Bem-aventurados os pobres em espírito”

No inverno a faia, brancas
Complexidades indisfarçadas
Contra o azul do céu e densas
Nuvens, carrega em seu vazio
A madurez: seiva em prontidão
À espera de subir, brotos alertas para em folha
Irromper. E aí passada a estação
Estival a camada desfolhada vem lembrar
O viço das promessas cumpridas.
Vazia outra vez em sábia pobreza
Pode os ramos estendidos
Para o céu alongar mais um milímetro,
E seu tronco expandir não mais que um tanto
Suas raízes a enterrar na firme
Fundação, afortunada por estar agora desfolhada:
Decíduo lembrete de que perder é preciso.



Os afortunados tristes
“Bem-aventurados os que choram”

Repentinas cheias de lágrimas, a cântaros,
Esculpem cruéis desfiladeiros, desnudando
Os estratos da vida de há muito olvidados
Por décadas calmamente depositados:
Beleza das terras de erosão. O mesmo sol
Que ornamenta a cada dia com as cores
De arroios e platôs, também mostra
Cada cicatriz e cada corte de lamento.
O choro deixa limpas as feridas
E as abre para a cura, o que leva
Sempre uma ou duas eras. Não há dor
Que seja feia no pretérito. Sob
A Misericórdia cada mágoa é um elo
Fossilizado na grande corrente da transformação.
Sempre busque as orações e as desenterre
Para no vale da morte as apresentar.



Os afortunados pacificadores
“Bem-aventurados os pacificadores”

Gigantescos punhos de nuvem agridem
O diafragma azul nu e exposto do firmamento:
De dor se encurva a abóbada celeste.
Relâmpagos rutilam e bramam trovões;
Brigam os filhos da mãe natureza.
E depois, tão repentino como ao começar,
Acaba. Os herdeiros de Noé, as percepções
Purificadas, observam o mundo desarmado
Em paz e com o perfume do ozônio. Ainda em água.
Que mudanças barométricas
Reorganizaram essas ferocidades
Num arco-íris pulsante de paz
Como sinal? Meu inimigo oferece a outra
Face; já eu baixo a guarda. Como espelho
Um lago reflete as cores filtradas;
Cantam tranquilos os pinheiros agitados pela brisa.

*Poemas publicados em Espiritualidade Subversiva (São Paulo: Mundo Cristão, 2009).

Visite o blog do tradutor:  http://gracasoberana.wordpress.com/

Um comentário:

B.W Riccardo disse...

Eu amo estes poemas de Peterson, apesar de que eles são totalmente T.S Elliot. Bom blog o teu.

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