sábado, janeiro 30, 2010

Três poemas de Fabiano Medeiros

*

 (Ad)oração  
à moda puritana
(2005)

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.8 )

Ó Senhor, Deus exaltado,
Senhor da aliança com teu povo,
fiel, misericordioso, justo Juiz,
Salvador nosso e Rei sobre todos,
dá-me sempre lembrar quem és e quem sou.

Dá-me um coração transformado
para render-te minha adoração
e oferecer meu sacrifício diante do teu altar
sem presunção, sem ironia, sem arrogância.
Não permitas que eu me fie
na minha fidelidade,
no meu cumprimento da tua lei,
na perfeição das minhas ofertas,
na abundância dos meus sacrifícios.
Não permitas com meu orgulho insultar
tua majestidade e santidade,
tua justiça e misericórdia,
tua fidelidade e tuas promessas,
tua suficiência,
tua exclusividade,
tua unicidade,
tua insuperabilidade.

Nada além da cruz me faz aproximar-me de ti
com a atitude certa.

Traze sempre à lembrança
o que já me declaraste,
tua vontade, tua lei,
teu conselho, tua correção,
tua instrução e direção —
tudo o que chamas de “bom”.
E de fato é boa e doce a tua voz,
agradável a tua instrução,
deleitável teu conselho.

Pela plena justiça de Cristo,
dá-me pautar meus atos.
Dá-me negar meus confortos,
desejos, luxos e prazeres,
a favor do próximo,
despindo-me da injustiça.

Por tua elevada benevolência,
tendo-nos amado primeiro
e em amor te doado na pessoa
de teu Filho, dá-me ser amoroso,
gentil, benevolente, com graça
e misericórdia, com um amor
leal,
constante,
gratuito,
sobejante,
extravagante.

E sabendo quem és e quem sou,
conhecendo o Deus Servo que
se humilhou abandonando sua glória,
andando aqui humildemente
por amor, para salvar,
dá-me olhar para ti como Exaltado
e para mim como humilhado servo inútil,
cujos sacrifícios e obras imperfeitos
não o podem salvar, cuja arrogância
o prende, cujo orgulho o faz abominável,
mas, apesar disso, é ainda assim
objeto de tua graça.

Faze-me humilde para me fazeres justo e benevolente.
Abate-me para seres exaltado.
Ensina-me o caminho da graça
e ajuda-me a renunciar às obras da carne.

Sê Exaltado! Seja eu humilhado!



Espelho religião
(1988)

Trago ao fundo, pra quem vê,
A tristura que dissimulo,
A perene sensação do que sou.
Ostento, contudo, ao menos perspicaz
A alegria que rotulo,
A fugaz sensação que não sou.
Trago ao fundo pra que vejam…

Levo junto, na fachada,
O incorrutível procedimento,
O que presumo ser e não sou.
Revelo, contudo, ao mais agudo,
O pérfido encantamento,
O terror do que sou.
Levo juntos, na fachada…

Trago e levo,
Ao fundo e na fachada,
O pavor,
O terror,
Dessa farsada…



Autossalvação
(2009)

É imoral o mais moral dos seres
que um sulco reto e bem traçado
abra para si
com o arado enferrujado
das boas intenções.

Visite o blog do autor: http://gracasoberana.wordpress.com/

Um comentário:

Tercio Bernardes (téo) disse...

Fui muito edificado pelas poesias do Fabiano. Que Deus os abençoe. Parabéns pela iniciativa deste blog.

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