quinta-feira, novembro 20, 2008

Dois poemas de Johann Killing


Entrevista de emprego

Bom dia, Senhor Presidente!
Posso me sentar na cadeira?
Desculpe a minha maneira,
Sempre falo espontaneamente.

Pois não, sente-se, à vontade,
Não tenho problema com isso,
Contanto que ouças, submisso,
E não me interrompas a frase.

Eu agradeço tua cordialidade,
E de pronto peço que atentes
Às qualificações imponentes
Que aqui estão, neste encarte.

Alcancei um altíssimo cargo
Na empresa em que me acho.
Estou quase que logo abaixo
De nosso presidente amargo.

Amargo? Digo mais, ingrato.
Não sabe como me empenho
Como um escravo no engenho,
Como para negócios tenho tato.

Então eu ouvi falar no Senhor,
Que aqui valeria mais a pena;
Que a carga não seria amena,
Porém a isso não vou me opor.

Ouça bem, minha cara criatura:
Tudo aquilo que tu já estudaste,
Bom, existe um grande contraste
Com o que temos aqui, de postura.

Portanto, esqueça teu currículo,
Desculpe, mas ele vai pro lixo.
Eu também não quero ser prolixo,
Nem fazer um discurso ridículo.

Onde trabalhaste, na Erro Ltda.,
O chefão trabalhou muito comigo,
Mas um certo dia pensou consigo
Que minha glória devia ser tomada.

Quando ele finalmente caiu na real,
Caiu do seu posto, perdeu o emprego
E para acabar com o meu sossego
Criou a empresa concorrente infernal.

Viveste para Erro, mas deves mudar.
Se queres viver para Justiça Iltda,
Tua visão geral deve ser alterada,
Pois aqui é diferente do outro lugar.

Nossos valores aqui são verdadeiros,
Pois a própria Verdade trabalha aqui.
Se antes costumavas pensar só em si,
Agora deves ser sempre o primeiro...

...a ceder. Tu terás que ralar como lá
E vou logo dizendo sobre teu salário:
Ele não é imediato, mas nem temporário,
Pois o que ganhares para sempre durará.

E aquilo que conquistaste sofridamente,
Teu digníssimo, e até invejável posto,
Bom, aqui no meio da plebe serás posto
E serás exaltado, sendo humilhada gente.

Se pensas que és digno de mais conforto,
Que és bom, ou quiser tomar minha glória,
Eu proponho que ames a traidora escória
E a resgates com amor de seu caminho torto.

Tentes perdoar, entregando a si próprio,
Se fazer, então, maldição em seu lugar,
Tornar-se publicamente alguém vulgar,
Por alguém que nem consegue ficar sóbrio.

Enfim, o mundo ao qual estás acostumado
É diferente do nosso mundo na Justiça.
Não precisa mostrar experiência postiça,
Não precisa nem ao menos ser um letrado.

Pois todo o processo de adesão foi feito.
Já está consumado todinho esse processo.
E é essa esperança que agora eu professo,
Que se largares tudo, podes ser perfeito.

Senhor Presidente, não quero ser cético,
Porém devo dizer que não vejo um sentido
Que pudesse fazer com que eu fosse atraído
A aceitar abertamente algo tão patético.

Eu entendo, jovem, e para tratar disto
Que peço que converses com meu amigo
Doutor Espírito Santo, que, já te digo,
O ajudará a entender melhor o Cristo.

Última coisa: quem me recomendou, afinal?
Bom, na verdade, eu li algo a teu respeito
Em um livro em casa, que estava no parapeito.
Escuta, filho, este livro te será essencial.


1Ts 5.2

Comecei, finalmente,
a fazer minha mala
Numa daquelas tardes
em que o mundo se cala;
Daquelas que tsunamizam
Para cima de ti
Idéias, respostas coerentes,
Que te põem a refletir;
Essas tardes em que
Se esquece o mundo,
Se reconhece que já
É moribundo,
Pois num instante respira saúde,
No próximo, então, se desilude
E é atropelado pelo trem da morte,
Como por um felino de grande porte.

Minha mala já está pronta.
Dentro, minha alma, de ponta a ponta.
Não cabe mais nada, nem meu ego,
Que eu julgava ser pequeno, como um prego;
Nem todas minhas honráveis posses,
Felizmente também não minha tosse;
"Só o essencial"- disseram - "Só o eterno.";
(Já vi que vou ter que deixar meus ternos)
Nenhuma roupa sequer que me encorpe,
Mas que nudez lá não será torpe.
Não marcaram horário comigo,
Mas "o mais depressa possível, amigo".
Parece que o trem só passa uma vez,
Esse trem não vem "de três em três".

A catraca é minuciosamente
Segregadora de nossa gente,
Pois ela serve, além do mais,
Como um detector de mortais.
E esses são, então, retidos,
Pois retidão nunca lhes fez sentido.
A catraca, um madeiro sujo, meu Deus!,
E uma inscrição sangrenta: Rei dos Judeus.

Ouvi um jovem anunciando que está perto,
Pessoas correm, como se algo fora descoberto.
Penso estar pronto, mas não sei para o quê.
"A passagem é presente de Deus para você"
Estranha a placa, tem outra que fala:
"Uma boa viagem para ti e tua mala"
Opa, li errado: "[...] para ti e tua alma"
Preciso pensar nisso com calma.
Alguém disse que após a catraca não há volta,
Mas essa minha ignorância me revolta,
Pois nem conheço o tão esperado destino,
Ouvi falar algo parecido quando era menino
E, hm...será que eles esperam pelo Cristo?
E todas essas pessoas estão aqui por causa disto?
Ué, mas não foi provado que foi só homem?
Existem tantos pregadores que do nada somem,
Com tudo o que sempre negaram, se envolvem,
E "das corruptas iguarias do rei comem"!

Como devo amar um Deus ausente?
Que Promete bênçãos, mas somente mente?
Mata com ondas mares de inocentes,
E ainda se chama de benevolente.
Para mim, esse Cristo nem existe.
Concordo até com o Nietsche
E eu acho até meio triste
O quanto esse povo insiste.
Para mim, só acredito vendo
E por isso é que sempre contendo
Com qualquer um chamado reverendo.

Ali na entrada, para mim já a saída,
Um pregador popular a falar resumida,
Mas firmemente sobre sua vida perdida,
Confessa seu testemunho de vida,
De forma pausada, sofrida.
Depois parte em despedida,
Da platéia atéia atingida.
Sigo-o um pouco até a catraca.
Em seu blusão, uma inscrição já fraca:
HARVARD UNIVERSITY, hm...um intelectual,
Mas até aí, até Einstein foi parcial:
"O caro Deus não joga dados".
Fico de repente encucado.

Acho Sagradas Escrituras no chão,
Devem ter escapado de algum cristão, da mão.
Me certifico: não chegou o trem
Me sento de costas, enquanto ele não vem.
Começo a ler o livro como a um lançamento,
Minhas malas ali no canto, ao relento.
(Acabei trazendo várias, pois meu ego
Não coube numa só, não nego.)
Me mantenho a todo momento
Alerta e bem atento
Tanto à leitura, quanto ao trem,
Para saber quando ele vem.
Me sinto estranho, um Espírito me invade,
Mas ele respeita minha privacidade.
Ele invade com consentimento meu,
E começo a entender essas coisas de Deus.
Quanto mais leio, mais entendo,
Faz sentido para mim, vou cedendo
Me sinto repentinamente sedento
De correr atrás de Deus, e não mais do vento.

O trem, entendi, a catraca também.
O pregador intelectual me fez bem.
A pressa dos crentes parece relevante,
Minhas malas desapareceram num instante,
Estou pronto, ansioso pelo lugar para onde vou,
Levanto, olho adiante, desmaio, o trem já passou.

Visite o blog do autor: http://antiapostasy.blogspot.com/

2 comentários:

edilza melo disse...

A Paz do Senhor!Sammis você pode me enviar a poesia!Os Estatutos de Deus de mário barreto frança,ainda hoje?Grata Edilza melo.

marcos leite disse...

Oi,gostei de teu blog!interessante!

Entre em meu blog!e veja meus textos!os sentimentos e emoções das palavras!

http://reefugio.blogspot.com

deixe seus comentários!pois suas palavras serão importante para mim!

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