terça-feira, março 06, 2007

Um poema de Samuel Pinheiro

Canção Salgada

As mãos de Deus não se cansam
de temperar as chuvas
e de aguçar o Sol.
De lavar os nossos olhos no Fogo.
De lavar as nossas lágrimas com Sal.
As mãos de Deus não se cansam
de despregar os desertos das nossas mãos.
As mãos de Deus não se cansam
de alumiar os nossos pés

Ele põe uma enxada de Luz
no nosso sangue
e bate na nossa Fome
com espigas

Deus está preocupado com o homem.
Doem-Lhe muito as minas de carvão
que temos nas nossas veias.
Amor rima com
dor.
Amar rima com
dar.
Ele nunca se esquece de nós!
Nem mesmo quando nós nos esquecemos
Dele
ouve a nossa voz
apesar do barulho rombudo
que fazem as pedras
a cair dos lábios da noite.
Usa um chicote de Lume
para nos acordar.
E há homens que pensam
um sepulcro para O enterrar.
Quem pode fuzilar um raio de Sol?
Ninguém. Ninguém.
Ninguém O pode colar a um muro!
E somos nós que Morremos
quando conspiramos a Sua Morte
!
Importa ouvir o Seu suor
na terra.
Importa ouvir as suas lágrimas.
E aprender as Suas armas de Amor.
As Suas mãos
são um aguçado poema de luta e tranqüilidade
para ouvirmos e decorarmos e vivermos
e atirarmos contra os cemitérios

É preciso
traduzir o azul
mas com gestos.
Dizer o Seu suor aos homens na rua.
Aos homens que todos os dias passam
no tempo que passa
para o Tempo que não passa.
Atirar-lhes ao rosto cavernoso
o Seu suor.
Dizer inteiro o Seu mar de Amor
com poucos lábios.
Soletrar o Seu suor
como se eu fosse um lampião
pendurado na janela.
Escrever o Seu nome com o meu sangue
aqui mesmo no chão.
Com as veias escancaradas ao vento
gritar os seus pomares

Deus não está longe de nós!
(Está aqui).
Nós é que nem sempre estamos perto Dele
!

In Antologia da Nova Poesia Evangélica

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