quarta-feira, novembro 08, 2006

3 Poemas de Joanyr de Oliveira

O Sacrifício

O excelso Deus, o eterno e celestial
timoneiro e senhor de sóis e mundos,
não desceria a estes parcéis profundos
em que governa o Príncipe do Mal.

A criatura de Deus (má, desleal)
aliou-se aos espíritos imundos.
e seus lábios rebeldes e iracundos
transmudaram-se em templos de Baal.

Por isto – humanizado – ele por nós
à terra trouxe o céu, e esparge a voz
na mensagem de amor levada à cruz.

E quebrantado aqui, débil e terno,
pôde sofrer as mãos do próprio inferno
no cravejado corpo de Jesus.


A Hora de Deus

Estará sempre o homem
longe da hora de Deus?
O Céu dispensa calendários
e ponteiros, a colher o infinito.
O homem se perde a cada instante
na imensidão do tempo.
A hora do homem se cansa
entre luzes e noites.

A hora de Deus flutua,
intocada, acima de todas as galáxias.

Se acaso me aflijo ou me aproximo
dos impérios da morte,
Deus acaricia o tremor do meu rosto
com a mais doce palavra.
Assim, me ergue e me restaura.
Canções de vida me visitam.

A hora de Deus não conhece
as amarras do tempo:
traz firmíssimo fulgor
a quantos se estendem
em seus ombros eternos.

A hora do homem: instável e escura.
Sempre e sempre um perigo.

-- ensina-me, ó Deus, a acertar
os rumos de meus passos
pelo esplendor de Tua hora.



O Deus que está em mim

Ósseo templo, adubado em sangue
e ar – tenho Deus em mim.
Os ícones estão fora, mui longe,
nos nichos da idolatria.
Não me curvo a Baal e similares.
Não adentra este espaço
amado pelo Espírito
o incenso dos demônios.
As espadas do Alto me ajudam.
O Deus que está em mim
para louvá-lo me adestra.
E a músculos e medulas unge:
deposita em minha sede
melodias inéditas.
E em minhas retinas felizes
abre densos milagres.
Meus olhos se alargam nas madrugadas
ao arrulhar de pombos branquíssimos.
As clarinadas de Deus me embalam.
Amanheço para a eternidade
quando célicos mundos
enlaçam-me o espírito.
O odor da Palavra bendiz
meus braços, frontes e narinas.
É quando, subitamente,
os mais sórdidos e impuros
merecem o meu beijo.
(O Criador, com um sopro
nos dedos santíssimos,
germinou os ventos
– sem mácula ou torpeza – ,
as coisas e seres...)
O Deus que está em mim
é o mais benigno, sim – e o único
efetivamente Deus.
Nem a escuridade do mundo
nem as falsas luzes
das catedrais da hipocrisia
logram enganá-lo.
Nem as caridades com trombetas
ousam comovê-lo.
Posso com os lábios tocar as bemaventuranças.
Em mim, Deus ergue o seu reinado
e – solenemente – deifica-me:
sua verdade prevalece.
O Deus que está em mim
– generoso e infinito –
me salva e eterniza.

in Canção ao Filho do Homem, Rio de Janeiro: CPAD,1998

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